terça-feira, 19 de julho de 2011

História da Indústria

Quase tudo o que o homem moderno consome ou utiliza, desde os alimentos e mesmo os utensílios em que são preparados e servidos, passa por algum processo de industrialização. O progresso da indústria, paralelo ao da ciência e da tecnologia, dá a medida da riqueza material de um país.
Denomina-se indústria o conjunto de atividades produtivas que o homem realiza, de modo organizado, com a ajuda de máquinas e ferramentas. Dentro dessa ampla definição se enquadram os mais diversos afazeres, em diferentes lugares e épocas. De modo geral, toda atividade coletiva que consiste em transformar matérias-primas em bens de consumo ou de produção, com auxílio de máquinas, é industrial.
Nascimento e evolução da indústria
Já em tempos pré-históricos, o homem elaborou seus utensílios e armas mediante a transformação dos materiais de que dispunha, como o sílex e, mais tarde, os metais. À medida que avançou a civilização, a especialização no trabalho aumentou e originou-se um grupo social, os artesãos, que se encarregavam de produzir os objetos de que a sociedade necessitava, como objetos de cerâmica, tecidos, armas etc.
No fim da Idade Média, os artesãos das florescentes cidades européias agruparam-se em corporações, nas quais se configuraram as categorias de aprendizes, oficiais e mestres e onde os conhecimentos técnicos se transmitiam de pai para filho. A produtividade dessas oficinas era baixa, pois a maior parte do trabalho se realizava manualmente e não existia a divisão técnica do trabalho, isto é, cada produto era realizado totalmente, de início a fim, por um só artesão. Somente em poucas atividades utilizava-se a força de animais de carga, de quedas d'água e do vento para mover máquinas rudimentares como os moinhos.
Nesse precário grau de evolução da indústria, teve especial relevância a invenção da máquina a vapor pelo britânico James Watt, depois de outras pesquisas como as de Thomas Newcomen, inventor da bomba d'água (movida a vapor), e as de Denis Papin, que estudou a força elástica do vapor d'água. A máquina a vapor permitiu aproveitar a força mecânica e foi o fundamento das indústrias naval e ferroviária.
Considerando-se indústria como fabricação de bens com emprego de máquinas, a primeira notável modernização da atividade ocorreu na Grã-Bretanha, com a revolução industrial, nas últimas décadas do século XVIII. Nessa época, avanços técnicos como a lançadeira rápida de tear, na indústria têxtil, reformularam as bases sobre as quais se assentava esse setor da economia.
Também no Reino Unido começou, no século XIX, um processo de industrialização baseado na melhora do aço com que se construía grande variedade de máquinas. Logo o processo estendeu-se pela Europa e pelos Estados Unidos, que começaram a produzir industrialmente artigos manufaturados. Um dos setores produtivos mais tradicionais, a indústria de armas, cresceu enormemente durante a primeira guerra mundial e provocou a renovação de toda a infra-estrutura da indústria metalúrgica, devido ao enorme volume de produção demandado pela guerra.
A década de 1920 foi de intensa industrialização na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, onde a produtividade do trabalho aumentou muito em virtude da mecanização, que se estendeu a grande número de atividades, e à eletrificação das fábricas. Do ponto de vista da organização e dos métodos empregados, o trabalho foi sistematizado, principalmente nas grandes linhas de montagem, estabelecidas pela primeira vez na indústria automobilística, pelo americano Henry Ford.
A indústria conforma o setor econômico secundário, enquanto a agricultura constitui o setor primário e os serviços, o terciário. Nessa época, o setor secundário já se encontrava estruturado em forma semelhante à da atualidade. Assim, surgiram novas formas de financiamento e se ampliaram as sociedades anônimas e outras sociedades de capital. Também com freqüência se formavam grandes complexos industriais que permitiam regular e controlar a produção e as relações entre os diferentes ramos que dela participavam.
No período compreendido entre as duas guerras mundiais, os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão já estavam na liderança da indústria mundial. A segunda guerra mundial, embora tenha sido um conflito devastador que prejudicou as atividades de vastas áreas industriais, ocasionou também um grande progresso da pesquisa e da tecnologia, o que permitiu a países como a Alemanha e o Japão apresentar grande desenvolvimento após a derrota.
O crescimento manteve-se persistente a partir da década de 1950, até o setor industrial transformar-se no motor da renda nacional nos países avançados. Chegou-se assim à chamada segunda revolução industrial, na qual a produção em série e a automatização desempenharam papel determinante. Nas últimas décadas do século XX, questões como a degradação ambiental, o esgotamento de recursos naturais e a persistência do desequilíbrio econômico entre países industrializados e subdesenvolvidos levaram o mundo todo a questionar a industrialização sem controle e a formular propostas de desenvolvimento sustentado, ou seja, utilização racional dos recursos disponíveis.
Da revolução industrial ao "crescimento zero".
No final do século XX, o ritmo do crescimento industrial passou a ser questionado pelos governos de alguns países e por organizações da sociedade civil empenhadas na preservação ambiental, na melhora da qualidade de vida e na distribuição mais equitativa das riquezas. Ganhou força a tese do "crescimento zero", que designa uma taxa de crescimento nula obtida pelo crescimento negativo dos setores poluidores e expansão dos setores não poluidores.
Essa nova tendência põe em dúvida o dogma segundo o qual a produção baseada no princípio do crescimento permanente conduz a uma sociedade melhor e mais igualitária. Isso porque, embora a indústria se tenha convertido no principal fator de riqueza dos países adiantados, seus benefícios atingem apenas uma pequena parte da população do planeta. De acordo com esse ponto de vista, o equilíbrio ecológico deveria tornar-se uma preocupação política e o crescimento ser partilhado de maneira mais justa por países ricos e pobres.
Organização industrial
Tanto para uma economia de mercado quanto para economias centralizadas é válida a lei segundo a qual cada unidade produzida será mais econômica quanto maior for a produção. Essa lei explica a rentabilidade da fabricação em série de um número reduzido de modelos industriais com a maior quantidade possível de peças intercambiáveis.
A passagem da manufatura para a fabricação industrial de um produto transcorre por etapas, a primeira das quais consiste na divisão do trabalho e na especialização: cada operário realiza um mínimo de operações diferentes, de modo a especializar-se de preferência numa só, que realizará muito rapidamente, de modo sistemático, ao longo de toda a jornada de trabalho. Uma segunda etapa refere-se à mecanização do trabalho, em que as ferramentas são substituídas por máquinas dispostas ao longo de uma linha de montagem, pela qual os produtos passam em seqüência e vão sendo montados e recebendo acessórios, pintura, embalagem etc., até que estejam prontos para distribuição. Na terceira etapa procede-se à eletrificação da linha de montagem e das diferentes operações, o que reverte em maior rapidez e precisão na fabricação.
O passo seguinte, só viável para a grande indústria, é a automação do processo de fabricação, que reduz a demanda de mão-de-obra e consegue, além de rapidez e precisão, continuidade de produção. O elemento fundamental dessa etapa é o robô industrial, conjunto de mecanismos capaz de repetir com exatidão uma ou diversas operações industriais. Uma fase subseqüente é a otimização do processo, cujo objetivo é o aproveitamento máximo dos recursos materiais e humanos da fábrica. Para sua consecução, é necessário controlar o funcionamento de todas as máquinas de atividade simultânea, assim como reduzir ao mínimo as reservas armazenadas e a energia consumida. As indústrias que produzem em níveis próximos ao ótimo requerem quadros de pessoal muito reduzidos, e seu trabalho, por vezes, se limita à vigilância e à supervisão.
Outra tendência da indústria moderna é a terceirização, processo que consiste em delegar a outras empresas a realização de parte do processo industrial. No Brasil, a indústria metalúrgica terceirizou grande parte da fabricação de autopeças.
Ordenação e tipos de indústrias
Os processos industriais podem obedecer às mais diversas normas, pois também são muito diversificadas as indústrias que os realizam.
A primeira distinção que cabe estabelecer entre os processos industriais é a referente a seu ritmo. De acordo com o ritmo, os processos podem ser contínuos, como a refinação do petróleo e a junção das diferentes partes numa linha de montagem, ou descontínuos, como a produção de medicamentos, a preparação de alimentos pré-cozidos etc. De outro ponto de vista, a fábrica pode organizar sua produção segundo as previsões de vendas de seu departamento comercial ou operar segundo uma carteira de encomendas e pedidos feitos antes de começar a fabricação.
Em linhas gerais, a transformação industrial parte de matérias-primas fornecidas pela agricultura ou pela mineração. As indústrias básicas fornecem os produtos intermediários e estes são adquiridos em grandes quantidades pelas indústrias manufatureiras, que os transformam em artigos de consumo. Por isso, a produção de energia é o primeiro passo para levar a cabo tal transformação. A energia empregada na maior parte da indústria é elétrica. As centrais de fornecimento podem ser térmicas (alimentadas por carvão ou derivados de petróleo), hidráulicas ou nucleares. Há ainda fontes alternativas, como a energia eólica, proporcionada pela força do vento, ou a energia solar.
As principais indústrias de base são a mineradora ou extrativa, a química e a metalúrgica ou pesada. Quase todas as demais atividades industriais constituem o que se chama de indústria leve. Do ponto de vista do destino do produto, cabe ainda outra classificação: quando se trata de máquinas, ferramentas ou meios de transporte industrial, diz-se que a indústria se dedica à fabricação de bens de capital, ou seja, bens não dirigidos ao consumo humano imediato, mas para produzir outros bens. As indústrias de bens de consumo são as mais numerosas e variadas. Compreendem a fabricação de alimentos, móveis, têxteis, impressos, aparelhos eletrodomésticos e produtos eletrônicos, entre outros.
Como a demanda final de bens não é previsível com exatidão, na maioria dos casos as indústrias não podem planejar sua produção ótima. Mais previsíveis são as variações cíclicas do mercado, que determinam o aumento ou redução da demanda de produtos natalinos e roupas da estação, por exemplo. Quanto à conservação, o armazenamento das mercadorias deve reduzir-se ao mínimo para evitar sua deterioração e extravio, especialmente quando se tratar de produtos de grande valor ou perecíveis. É mais econômico, no entanto, manter a maquinaria em funcionamento permanente para aproveitar melhor os recursos industriais. Por tudo isso, o ritmo de produção é uma das decisões mais importantes a se tomar no controle da fabricação de qualquer artigo processado industrialmente.
Política industrial
Para levar adiante o processo de desenvolvimento industrial, cada país opta por uma política de industrialização. Fatores ligados aos grandes acontecimentos econômicos mundiais, aos movimentos políticos internos, às condições peculiares da região e ao acerto da política econômica dos governos determinam os progressos ou retrocessos da indústria.
No caso brasileiro, a industrialização se iniciou tardiamente, o que levou o país a realizar grandes esforços para diminuir a distância que o separa dos países desenvolvidos. A dificuldade de conquistar o mercado externo e a desigual distribuição da renda, que restringe o mercado interno, constituem ainda aspectos negativos para a industrialização do país.
Indústria no Brasil
A atividade industrial no Brasil teve início no período colonial. Sua história, no entanto, não se caracteriza por uma evolução sistemática. As atividades agrícolas e o extrativismo absorviam o pouco capital e a mão-de-obra, dando margem apenas às indústrias caseiras, à agroindústria do açúcar, a pequenas indústrias no litoral e aos estaleiros em que se construíam embarcações de madeira.
Essa situação se prolongou durante o primeiro e o segundo reinados, em função das dificuldades impostas pela falta de transportes, pelo regime de escravidão e de latifúndio e pela própria política da metrópole. As autoridades portuguesas proibiram as atividades manufatureiras, pois, segundo entendiam, desviavam a capacidade produtiva das iniciativas realmente importantes -- a produção das mercadorias de exportação, em particular o pau-brasil no século XVI, o açúcar no século XVII, e ouro, prata e pedras preciosas no século XVIII. Os alvarás que notificavam a população das proibições eram ostensivamente elaborados para proteger as manufaturas portuguesas que, no entanto, não tinham capacidade para suprir todo o mercado brasileiro, abastecido também pelos produtos ingleses transportados por barcos portugueses.
A primeira grande virada dessa política se deu quando a invasão napoleônica fez a família real deixar Lisboa e refugiar-se no Brasil. Estabelecido no Rio de Janeiro, D. João VI abriu os portos brasileiros às nações amigas, revogou os alvarás que restringiam a industrialização e instituiu isenções alfandegárias para as indústrias, às quais beneficiou também com recursos financeiros e com a contratação de técnicos europeus.
Os primeiros industriais brasileiros, contudo, enfrentaram graves dificuldades, pois, além de produzirem para um mercado pequeno, enfrentavam a concorrência dos produtos ingleses que chegavam ao Brasil a preços baixos, devido às módicas tarifas de importação. A situação amenizou-se quando, em 1814, o futuro imperador Pedro I assinou o decreto que abriu os portos brasileiros a outras nações, acabando com o virtual monopólio das importações inglesas.
Durante os séculos XVIII e XIX, as excelentes safras de café, algodão e fumo, embora possibilitassem a acumulação de capital benéfica para a indústria, afastaram o país da industrialização, cuja necessidade só se fez sentir com a crise da lavoura, em 1880. Outros fatores que fortaleceram o impulso industrializante foram a libertação dos escravos, em 1888, a proclamação da república, em 1889, o bom desempenho do café no final da década de 1880 -- que possibilitou a acumulação de capital -- e as facilidades de crédito concedidas pelos governos da época, a fim de enfrentar o desequilíbrio provocado pela extinção do trabalho escravo.
O processo de industrialização, porém, foi lento e só ganhou maior impulso durante a primeira guerra mundial, quando os produtos importados desapareceram do mercado e, com isso, estimulou-se a produção local. O processo desencadeou-se de fato somente após 1930, com a crise do café, a baixa do câmbio -- que facilitou a importação de equipamentos -- e um certo nível de acumulação de capital.
Na década de 1940 houve a primeira iniciativa industrial de vulto, em face das circunstâncias criadas pela segunda guerra mundial. Os Estados Unidos precisavam instalar bases aéreas no território brasileiro para o trânsito de seus aviões para a África e a Europa, e negociaram a implantação de uma unidade siderúrgica pertencente ao estado -- a
Companhia Siderúrgica Nacional
A usina de Volta Redonda RJ desempenhou importante papel para o desenvolvimento da indústria pesada nacional, propiciando a criação de novas indústrias e a expansão siderúrgica.
Da segunda guerra mundial ao começo da década de 1960, o ritmo da industrialização no Brasil foi intenso, em parte em conseqüência do dinamismo do governo Juscelino Kubitschek. Um passo importante em direção à industrialização autônoma foi a instituição do monopólio estatal do petróleo, com a criação da Petrobrás, em 1953.
A expansão do parque industrial brasileiro, iniciada com as indústrias de bens de consumo, procurou, a partir da década de 1970, atingir uma fase mais avançada, a da produção de bens de capital e materiais básicos indispensáveis à aceleração do ritmo do crescimento geral. Um dos setores industriais mais pujantes, no entanto, continuou sendo o automobilístico, estabelecido principalmente nas cidades paulistas do ABCD, que produzia, na década de 1990, mais de 600.000 veículos por ano.

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